domingo, 31 de julho de 2011

Sem tempo...


Muitos usam da frase: "Não tenho tempo" para se esconder de conviver. PDF Imprimir E-mail
Muitos usam da frase: "Não tenho tempo" para se esconder de conviver.
Muito mais fácil quando você quer se livrar de alguém é dizer o simples: "estou sem tempo", ou a versão "estou trabalhando muito", ou mesmo "queria estar mais presente, mas não estou consciliando".
Não estou criticando a ninguém, até porque todos nós sofremos desse mal, mas o mundo se tornou tão insuportavelmente global que nos engoliu com essa coisa toda de termos que correr todos os dias atrás do nosso próprio rabo e termos que dar nosso tudo pela sobrevivência e mesmo assim a vida está e continua estando sobre-humana.
Tanto se corre e nunca se chega
Tanto se trabalha e nada se tem
Tanto se ama e nunca se é amado
Tanto se dá e nunca se tem em troca de volta
Tanto se anda e nunca se alcança à chegada.
É tanto tanto que não dá tempo de sentir o que é mais importante: calor humano.
É tanta ambição que não se chega nem no pedaço de pão e no prato de feijão com arroz de cada dia.
É tanto egoísmo que só se olha pro próprio umbigo, e quando se enxerga, que são tantos egos e orgulhos cheios que talvez até o umbigo esteja difícil de enxergar.
O que mais me dói é quando menos esperamos nossos melhores amigos vêm com aquele toque maneiro, num momento que você está aproveitando sua vida numa boa e ele te diz: "olha se manca"...
Mas quem não se manca são as pessoas...
Não poder ter direitos que eu deveria ter, ter que me sacrificar com silêncio pra me moldar pra me adeqüar dói muito, e até muito mais do que as pessoas pensam.
Ter que ver amigos que se dizem quase irmãos fingirem que não falam muito com você e te evitando, ou mesmo as pessoas que um dia contaram com a tua mão extendida fingindo que não te ouvem ou vêem, só porque não querem te dar bom dia, boa tarde ou boa noite?
Não querem dividir algo, uma palavra ou mesmo um pedido pequeno amigo, ou não querem sair dos seus mundinhos e preferem se esconder em frases feitas tais como: "não sei...", "ah, eu só tenho isso...", "olha, eu até faço, mas só posso até determinado ponto..." e o que mais dói é que ainda tenho que agradecer ou pedir desculpas. Não quero que ninguém pense que é com alguém diretamente, até porque é com o mundo com o qual estou me deparando, sabe?
Volto atrás e vejo como é duro ser ingênua e boba, e ser solidária.
Tanta inconveniência e tanto interesse, quando se diz que alguém é maneiro só porque abriu a guarda pra avaliar e liberar as pessoas na boa. Aliás, ser maneiro, hoje eu percebi que é dar mole pra neguinho se dar bem nas costas da gente.
Fico abismada como as pessoas gostam de se dar bem às custas dos outros. É impressionante e me senti uma perfeita ET, diferente do todo, que fiz tudo certinho, direitinho e o todo se aproveitou e fez tudo da forma mais fácil, mais conveniente.
Doeu e me senti envergonhada de ter pago o mico de ter me esforçado pra uma coisa que geral fez nada e se deu bem igualzinho.
Por que será que eu me questiono tanto e questiono o mundo?
Por que será que quero sempre defender causas humanitárias, do ambiente, de voluntariado, ou mesmo de fundos filosóficos, culturais e me aprofundar no que geralmente ninguém se importa?
O que importa pra esse mundo novo, essa gente que aí está perambulando por aí, é ser esperto, a qualquer preço, a todo custo, mas eu não consigo ser assim e nem conviver com isso.
Dói mesmo estar me embolando nas minhas palavras e pensamentos pra definir o que sei que não mudará.
Mas pelo menos transbordo, pra meia dúzia que ainda se importam com o mesmo que eu também penso que seja importante.
Espero de coração que o mundo caminhe pra ser melhor, mesmo que seja utopia, sonho, mas espero, pois não é só o meu umbigo que importa, é o meu semelhante, as minhas gerações próximas e toda humanidade, por menos e menor que eu seja e que possa fazer sozinha.
Comigo não rola aquela de que uma andorinha só não faz verão, pra mim se cada um fizer um pouco, o todo vai ser perfeito.
Aliás isso é uma outra discussão que irei escrever sobre: todo mundo parece perfeito de longe, mas chega perto, todo mundo apresenta suas imperfeições... Quem quer ser perfeito? Eu, não... Muita responsabilidade nas minhas costas, não acham?
Mas isso é papo longo...

(Cristiana Passinato )

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