quinta-feira, 31 de março de 2011

Sakura... サクラ


Em março, o inverno se vai com o branco da neve e o frio. A primavera chega, enfeita e dá cor à paisagem do Japão com muitas flores. Dentre elas, a sakura, das cerejeiras típicas do arquipélago.
Por Redação Tudo Bem


Poucos meses são tão esperados pelos japoneses como o de março. Com o início da primavera, as paisagens brancas e frias cedem espaço a um mar de flores rosadas que proporcionam um dos maiores espetáculos da natureza no arquipélago. As flores de sakura avançam a partir do sul do país e anunciam: é hora de sair com a família e os amigos para se divertir e apreciar a paisagem.

O hábito, tão difundido entre os japoneses, ainda é novidade para os brasileiros que chegam ao país.


Veja a seguir algumas curiosidades sobre o sakura:

Mar de flores
A partir do mês de março, quando começa a primavera no hemisfério norte, o Japão é tomado por flores rosadas. São as sakura, flores de cerejeira. Elas começam a desabrochar nas árvores no sul do Japão, em Okinawa, e vão em direção ao norte, até Hokkaido. O fenômeno, que dura dois meses e se “move” como uma onda, é chamado Sakura zansen e significa, literalmente, linha de frente das cerejeiras. Os grandes apreciadores da flor fazem roteiros turísticos que acompanham a transformação da paisagem.

Tudo começou…
Conta a lenda que uma princesa desceu dos céus e aterrissou em uma cerejeira. Acredita-se então que o nome sakura, na verdade, é derivado do nome da princesa Konohana Sakuya Hime, que significa “a princesa da árvore de flores abertas”. Outros dizem que o nome da planta tem sua origem no cultivo de arroz e sua divindade (Sa). A segunda parte do nome, kura, faria referência à sua morada.

Hanami
Apreciadores de flores de cerejeiras não faltam. Eles se reúnem em grupos e passam horas observando as belas paisagens que a primavera traz. A prática ganhou até nome: hanami. O hábito já tem mais de dez séculos e exige a dedicação dos participantes, já que, em cada região, o espetáculo só dura duas semanas. Para chegar no local e dia exatos, eles contam com a ajuda da Agência Meteorológica Japonesa, que informa até em boletins televisivos o momento do florescimento.

Primeira fila
Os melhores lugares para assistir ao florescimento das cerejeiras são tão disputados que alguns chefes de grandes empresas chegam a mandar seus funcionários mais jovens irem antes aos parques para garantir um bom posto de observação. A prática é acompanhada de pique-nique e até saquê. Os mais desinibidos até cantam e dançam para celebrar a ocasião. Hoje, países como o Brasil e Estados Unidos também realizam o Hanami graças à iniciativa japonesa de, no início do século 20, distribuir mudas da árvore para diversas nações como prova de amizade. Mais de três mil pés foram levados para os Estados Unidos e podem ser vistos nos jardins da Casa Branca. A cerejeira virou símbolo de fraternidade.

Mil e uma utilidades
A flor de cerejeira nasceu como representante da aristocracia japonesa e, portanto, sua única missão é ser bonita. Mas ela tem outras utilidades: apesar de não dar frutos, a madeira da árvore é utilizada na produção de móveis e blocos para impressão de ukiyo-ê dos séculos 16 e 17. Até as flores são utilizadas e, depois de ficarem em conserva no sal, se transformam em um chá, o sakura-yu, usado nas festas de casamento para pedir felicidade ao novo casal.

Sabor especial
A primavera inspira também o cardápio japonês. Doces, bebidas e alguns pratos ganham o toque das flores no formato e no sabor. São comuns docinhos simples, feitos de açúcar, em formato de sakura. O tradicional bolinho de massa de arroz, quando enrolado na folha da cerejeira, vira o sakura-mochi. Outras flores, como uma espécie comestível de crisântemo, também dão colorido aos pratos.

Vida breve
Uma das principais características da cerejeira é sua efemeridade. O fato de as flores durarem pouco tempo nos galhos das árvores impressionou muito os japoneses na Idade Média, período de guerras, o que fazia com que as pessoas sentissem que tinham a vida ameaçada a todo momento. Assim, a sakura foi associada à imagem do samurai, guerreiros que estavam dispostos a dar sua vida quando necessário e de existência muitas vezes tão breve quanto a flor da cerejeira.

Recado sutil
Antigamente, a sakura era considerada símbolo do amor. Quando as mulheres enfeitavam os cabelos com um galho de sakura ou decoravam o quintal de casa com as flores, mostravam que estavam em busca de um amor. Nas peças do teatro kabuki, o cenário do bairro das gueixas é freqüentemente ilustrado pelas flores de cerejeiras para representar a alegria dessa região de entretenimento. No entanto, a flor também tem uma simbologia negativa: um galho quebrado de cerejeira também pode significar a aproximação da morte. Acredita-se o que sakura é a ligação entre o mundo dos vivos e dos mortos; e que a alma dos mortos é absorvida pelas árvores das cerejeiras.

"Vergar Para Não Quebrar" (Silvia Schmidt)

Neste momento
Eu precisei falar-lhe.
Venho pedir-lhe que me ajude a ajudar você.
O seu corpo físico não é eterno, mas eu sou.
Quero conseguir trazer harmonia e leveza para o seu coração.

Toda vez que você entra em estados que se desarmonizam
com as Leis Universais você sofre, e sou eu que lhe trago
esse sofrimento, esperando que você entenda o que
estou tentando lhe mostrar através dele.

Seus pensamentos de rejeição a si mesmo, suas crises
de angústia, de insatisfação, de cólera, de depressão,
e tantos outros estados que lhe roubam a alegria de
viver me dão um trabalho que eu não gostaria de fazer,
mas que é necessário para que você acorde, que desperte
para enxergar que a realidade é algo muito distante do
que você sequer consegue agora imaginar.

A realidade - de fato - só se mostra quando você se rende
à humildade necessária para entender que nada muda
se você não mudar antes, se não aceitar que tudo é
como é independentemente da sua vontade, da sua atitude
de "promotor brilhante" que não quer perder nenhuma
causa quando se trata de condenação de si mesmo,
de tudo e de todos que o rodeiam.

Eu não lhe peço acomodação porque ela acomoda a ação:
Eu lhe peço apenas que seja suficientemente humilde
para compreender que nunca, jamais as coisas serão
como você quer, mas sim como elas podem e devem ser.
E não é você quem decide por elas.

Só cabe a Deus deliberar e decidir o rumo de tudo e de todos.
Aceite esse FATO.
Seja flexível para não quebrar!
Lembre-se daquelas árvores que não se vergam com a
força dos ventos: dia mais, dia menos elas vão ao chão.

Até quando eu terei que trazer-lhe dores, sofrimentos, perdas,
doenças, danos materiais e discórdias de toda sorte para que
você se entregue às Leis do Universo?
Você sempre me dará essa tão terrível tarefa?
Eu terei que cumpri-la se você não se render à consciência
de que quem comanda o seu destino é a sua postura
diante de todas as coisas que lhe parecem "erradas".
Terei que machucar você para salvá-lo do pior!
Ajude-me a não precisar fazer isso. Coopere comigo.

A certo tempo a terra cobre a face de todos, mas seus espíritos
continuam a existir num outro plano, num plano eterno.

Permita que no momento de voltar para a Eternidade eu possa
voltar com a alegria de tê-lo ensinado através do Amor e não da dor.

O seu corpo físico não é eterno, mas Eu sou.
Eu sou Seu Espírito, e só através de mim você pode ter Paz.
Ouça-me, entenda-me e ajude-me a ajudá-lo.

Eu vivo em você. Eu amo você.

"Aqui se faz, Aqui se paga!"... É a Lei da Vida...

"Cada qual pagará a si mesmo pela má ação que cometeu. Praticando uma boa ação, cada qual se purificará a si mesmo. Não se pode purificar uns aos outros." (Sakyamuni)


Acordando no clima de "Legião Urbana"...


"Hoje acordei me sentindo tão bem
Olhei pela janela e vi na rua alguém
Voltei para o meu quarto e passei o batom
Pois o dia é uma rosa e cor-de-rosa é o tom"

Feche a porta do seu quarto...

"Feche a porta do seu quarto
Porque se toca o telefone
Pode ser alguém
Com quem você quer falar
Por horas e horas e horas…"


quarta-feira, 30 de março de 2011

Deixe que haja espaços...



"Deixem que haja espaços na união entre vocês.
E deixem que os ventos dos céus dancem entre vocês.
Amem um ao outro, mas não tornem o amor uma obrigação;
Ao contrário, deixem que ele seja um mar em movimento entre
as praias de suas almas."





Em O Profeta, de Kahlil Gibran, Almustafá diz : Se a união entre vocês não for fruto da sensualidade, seu amor irá se aprofundar a cada dia. A sensualidade reduz tudo, pois a biologia não se importa se vocês permanecerão juntos ou não. Ela está interessada na reprodução e, para isso, o amor não é necessário. Você pode continuar produzindo filhos sem amor.

Observei todos os tipos de animais. Vivi em florestas, em montanhas, e constantemente ficava perplexo: sempre que eles tinham relações sexuais, pareciam muito tristes. Nunca vi animais tendo relações sexuais com alegria; é como se alguma força desconhecida os estivesse pressionando a fazer aquilo. Não é a partir de suas próprias escolhas, de suas liberdades, mas de suas escravidões. Isso os deixa tristes.

O mesmo observei com os seres humanos. Vocês já viram marido e mulher na rua? Você pode não saber se eles são casados, mas, se ambos estiverem tristes, pode estar certo de que são.

Eu viajava de Déli para Srinagar. No meu compartimento com ar condicionado havia apenas dois assentos e um estava reservado para mim. Um casal veio, uma bela mulher e um jovem e belo homem. Ambos não podiam se acomodar num só assento, então ele deixou a mulher e foi para um outro compartimento. Mas ele vinha a cada parada, trazendo doces, frutas, flores.

Eu observava toda a cena e perguntei à mulher: "Há quanto tempo vocês estão casados?"
Ela respondeu: "Uns sete anos."
Eu disse: "Não minta para mim! Você pode enganar qualquer outro, mas não pode me enganar. Vocês não são casados."
Ela ficou chocada. De um estranho, a quem nada falou e que estava simplesmente observando... Ela perguntou: "Como você descobriu?"
Respondi: "Não tem mistério, é simples. Se ele fosse o seu marido, depois de ir embora, se ele voltasse quando chegasse a estação em que vocês deveriam descer, você seria uma felizarda!"
Ela disse: "Você não me conhece e eu não o conheço, mas o que você está dizendo está certo. Ele é meu amante, é o marido de uma amiga minha."
Eu disse: "Então, tudo faz sentido..."

O que há de errado entre maridos e mulheres? Não se trata de amor e todos o aceitaram como se soubessem o que é o amor. É pura sensualidade. Logo vocês ficam saturados um do outro. Para a reprodução, a biologia o enganou e, logo, não haverá nada de novo... a mesma face, a mesma geografia, a mesma topografia. Por quantas vezes você a explorou? Todo o mundo está triste devido ao casamento e o mundo ainda permanece inconsciente da causa.

O amor é um dos fenômenos mais misteriosos. Almustafá está falando sobre esse amor. Você não pode se entediar, porque ele não é sensualidade.
Almustafá diz: Deixem que haja espaços na união entre vocês.
Fiquem juntos, mas não tentem dominar, não tentem possuir e não destruam a individualidade do outro.

Se vocês moram juntos, deixem que haja espaços... O marido chega tarde em casa; não há motivo, não há necessidade para a esposa indagar onde ele esteve, por que ele veio tarde. Ele tem seu próprio espaço, ele é um indivíduo livre. Dois indivíduos livres estão vivendo juntos e não transgridem o espaço um do outro. Se a esposa chega tarde, não há necessidade de perguntar: "Onde você esteve?" Quem é você? Ela tem seu próprio espaço, sua própria liberdade.

Mas isso está acontecendo todos os dias, em todos os lares. Eles brigam por causa de picuinhas, mas, no fundo, o ponto é que eles não estão dispostos a permitir que o outro tenha o seu próprio espaço.

Os gostos são diferentes. Seu marido pode gostar de algo que você não gosta. Isso não significa que este seja o começo de uma briga, de que por serem marido e mulher seus gostos deveriam também serem os mesmos. E todas essas questões... Passa na mente de todo marido que volta para casa: "O que ela vai perguntar? Como vou responder?" E a mulher sabe o que ela vai perguntar e o que ele vai responder, e todas essas respostas são falsas, fictícias. Ele a está enganando.

Que tipo de amor é esse, que está sempre suspeitando, sempre com medo do ciúme? Se a mulher o vê com outra mulher, rindo e conversando, isso é suficiente para destruir toda a sua noite. Você se arrependerá; isso é demais para uma pequena risada. Se o marido vê a esposa com outro homem e ela parece estar mais alegre, mais feliz, isso é suficiente para criar um tumulto.

As pessoas não estão cientes de que não sabem o que é o amor. O amor nunca suspeita, nunca é ciumento, nunca interfere na liberdade do outro, nunca se impõe ao outro. O amor dá liberdade, e a liberdade é possível somente se houver espaços na união entre vocês.

Essa é a beleza de Kahlil Gibran... um imenso discernimento. O amor deveria ficar feliz ao ver a esposa feliz com alguém, porque o amor deseja que ela seja feliz. O amor deseja que o marido seja alegre. Se ele estiver simplesmente conversando com uma mulher e se sente alegre, a esposa deveria ficar feliz, e aí não cabem desavenças.

Eles estão juntos para tornarem as suas vidas mais felizes, porém justamente o oposto acontece. Parece que o marido e a mulher estão juntos apenas para tornar a vida um do outro infeliz, arruinada. A razão é: eles não entendem nem mesmo o significado do amor.

Mas deixem que haja espaços na união entre vocês... Isso não é contraditório. Quanto mais espaço vocês derem um ao outro, mais juntos estarão. Quanto mais vocês permitirem a liberdade um do outro, mais íntimos serão. Não inimigos íntimos, mas amigos íntimos.

E deixem que os ventos do céus dancem entre vocês.
Esta é uma lei fundamental da existência: estar juntos demais, não deixando espaço para a liberdade, destroça a flor do amor. Você a esmagou, não lhe deu espaço para crescer.

Os cientistas descobriram que os animais têm um limite territorial. Você deve ter visto cães urinando nesse e naquele poste. Você acha que isso é inútil? Não é. Eles estão traçando os limites — "este é meu território." O cheiro de sua urina impedirá que um outro cachorro entre ali. Se um outro cachorro chegar perto do limite, o cachorro a quem o território pertence não se importará; porém, apenas um passo a mais e haverá briga.

Todos os animais selvagens fazem o mesmo. Até um leão, se você não cruzar a fronteira dele, ele não o atacará — você é um cavalheiro. Mas, se você cruzar a fronteira dele, não importa quem você seja, ele o matará.

Ainda precisamos descobrir os limites territoriais dos seres humanos. Você já deve ter sentido esses limites, mas eles ainda não foram cientificamente estabelecidos. Ao andar num trem metropolitano, numa cidade como Mumbaim, o trem fica lotado... as pessoas estão em pé, muito poucas conseguem se sentar. Observe as pessoas que estão em pé — embora elas estejam muito próximas, estão tentando de todas as maneiras não tocarem umas nas outras.

À medida que o mundo fica mais superpovoado, mais e mais pessoas ficam insanas, cometem suicídio, assassinatos, pela simples razão de não terem espaço para si mesmas. Pelo menos as pessoas que amam deveriam ser sensíveis; saber que a esposa precisa de seu próprio espaço, da mesma maneira que você precisa de seu próprio espaço.

Um dos meus livros mais estimados é o de Rabindranath Tagore, Akhari Kavita, "O Último Poema". Ele não é um livro de poesia, e sim um romance, mas um romance muito estranho, muito penetrante.

Uma jovem e um homem se apaixonam e, como costuma acontecer, imediatamente querem se casar. A mulher diz: "Somente com uma condição..." Ela é muito culta, muito sofisticada e rica.

O homem diz: "Qualquer condição é aceitável, mas não posso viver sem você."
Ela diz: "Primeiro ouça a condição, então pense a respeito. Não se trata de uma condição comum. A condição é que não viveremos na mesma casa. Tenho muitas terras, um lindo lago circundado por árvores, jardins e prados. Numa margem do lago farei uma casa para você, exatamente do lado oposto à minha."

Ele perguntou: "Então, qual é o sentido do casamento?"
Ela respondeu: "Assim, o casamento não nos destruirá. Estou lhe dando o seu espaço, eu tenho o meu próprio. De vez em quando, ao caminharmos no jardim, poderemos nos encontrar. De vez em quando, andando de barco no lago, poderemos nos encontrar — acidentalmente. Ou, algumas vezes, posso convidá-lo para tomar chá comigo, ou você pode me convidar."

O homem comentou: "Essa é uma ideia muito absurda."
A mulher disse: "Então, esqueça o casamento. Essa é a única ideia correta; somente assim nosso amor poderá continuar a crescer, porque sempre permaneceremos frescos e novos. Nunca tomaremos o outro como algo garantido. Tenho todo o direito de recusar sua proposta, como você tem todo o direito de recusar a minha; em nenhuma das maneiras as nossas liberdades serão desrespeitadas. Entre essas duas liberdades cresce o belo fenômeno do amor."

É claro que o homem não conseguiu entender e abandonou a ideia de casamento. Rabindranath tem o mesmo discernimento que Kahlil Gibran... e eles escreveram praticamente na mesma época.

Se isso for possível, ter espaço e ao mesmo tempo convivência, os ventos dos céus dançam entre vocês.

Amem um ao outro, mas não tornem o amor uma obrigação. Ele deveria ser uma dádiva gratuita, dada ou recebida, mas não deveria haver exigências. Do contrário, muito em breve você estarão juntos, mas tão separados quanto estrelas distantes. Nenhum entendimento criaria uma ponte entre vocês; você não deixou espaço nem mesmo para a ponte.

Ao contrário, deixem que ele seja um mar em movimento entre as praias de suas almas.

Não o torne algo estático, não faça dele uma rotina. Ao contrário, deixem que ele seja um mar em movimento entre as praias de suas almas.

Se a liberdade e o amor puderem ambos serem seus, você não precisará de mais nada. Você conseguiu aquilo para o qual a vida lhe foi concedida.


Osho, em "Amor, Liberdade e Solitude: Uma Nova Visão Sobre os Relacionamentos"
Imagem por Rishi S


terça-feira, 29 de março de 2011

"E a bailarina, baila, baila..."

"E baila...feliz...
Distante dos lamentos e arrependimentos do soldadinho de chumbo..."



Sensacional esse clip, eu não conhecia o trabalho desse grupo.
Mas uma das coisas que devo a você...que tanto tem a me ensinar...

Sou uma raridade... A-M-O SER FELIZ!!! ESTAR FELIZ!!!

´ É muito raro uma pessoa querer ser feliz - diga ela o que disser.




É muito raro que uma pessoa esteja pronta para ser feliz - as pessoas fazem grandes investimentos na sua desgraça. Adoram ser infelizes...na realidade,
sentem-se felizes por serem infelizes.´

(Osho)


quinta-feira, 24 de março de 2011

Momento "Café e Bobagens" : Rodeada por Amigos...e Café...


Redondilhas de Café

 O café, feito bebida
É um viciozinho ligeiro
E é também para o escritor
Um arrimo verdadeiro
Não acabaria um livro
Sem meu fiel companheiro

É desse meu bom amigo
Que, agora, passo a falar
Apesar de conhecido
Muito se tem p’ra contar
Bem merece as redondilhas
Seu passado tão invulgar

Complicado é ver as coisas
P’ra sempre se transformando
Por ser preciso um começo
As lendas vão-se criando
Lavoisier que desculpe
O que eu vou contar, cantando

Teve, o Café, seu começo
Quando o arcanjo Gabriel
Lançou pr’ó chão da Abissínia
U’a semente, do farnel
Que ele trazia, esquecida
De um pomar que há lá no Céu

E foi seguindo o seu fado
De semente abençoada
Até aos dias que hoje correm
Já, em tantas, transformada
A dar azo a muita história
Ora clara, ora velada

Conta-se que Abgail
Cinco medidas de um grão
Deu, torradas, a David
Uns dizem que tal ração
Tratava-se do café
Nem lentilhas, nem feijão

Balkis, rainha do povo
De Sabá, país de Kaffa
Levou para Salomão
A planta que cura estafa
O Sábio fez-lhe um menino
Assim, conseguiu sua safa

Balkis voltou à Abissínia
Sem tristeza ou pessimismo
Com Menelique, seu filho
Lá, implantou o Judaísmo
Onde veio a transformar-se
No Copta Cristianismo

Por inveja e por ganância
Esaú queria o direito
De ter a progenitura
Logo, arquitectou um jeito
Pagou Jacó com café
A Bíblia narra esse feito

Helena, aquela de Tróia
Viu Telêmaco em tristeza
Deu-lhe café e a alegria
Fez o gáudio da princesa
E aos soldados espartanos
O café dava esperteza

Gabriel, o nosso arcanjo
A pedido do Alto Alá
Deu uma planta a Maomé
Que dela fez o qahwah
A bebida estimulante
Para, ao Islamismo, ajudar

Mas o café deu-lhe forças
Não só p’ra religião
Gabava-se Maomé
Quarenta, jogava ao chão
Ou mulheres, ou inimigos
Há registo no Corão

A lenda mais conhecida
Que passo a cantar, aqui
Conta então que algumas cabras
Do jovem pastor Khaldi
Ao comerem certos frutos
Não conseguiam dormir

Pastor Khaldi, muito esperto
Ao reparar em tal facto
Foi ao mosteiro de Chéodet
Disse a um monge, estupefacto
Que também se impressionou
Com a proeza de tal mato

O monge, de curioso
Fez, co’o mato, experiência
Chás de folhas e de frutos
E, com toda a paciência
Descobriu que essa infusão
Afastava a sonolência

Os muçulmanos que tomam
Café, no Verão, ou Inverno
Acreditam que, chegada
A hora do Sono Eterno
Se têm café no estômago
Não é temido o Inferno

Ali ibm Omar al Shadhilly
Conhecido por Omar
Que com a filha de um vizir
Começou a namorar
Para salvar a sua pele
Em Moka, foi-se exilar

Nesse tempo, em que vivia
Com sua esperança perdida
Atacou uma moléstia
Ainda desconhecida
Que deixava toda a gente
Cabisbaixa e combalida

Mas um pássaro encantado
Do povo, se apiedou
Chamou pelo amigo Omar
E bom caminho, indicou
De um cafeeiro e, com ele
Omar, o povo curou

Até a filha do vizir
Do mesmo mal padecia
Ficou o pai desesperado
Ele, a tudo, recorria
Não havia medicina
Para a filha que sofria

O vizir soube de Omar
Mandou chamá-lo, ligeiro
Omar curou sua amada
Co’o remédio milagreiro
Hoje, ele além de ser santo
Do café, é o padroeiro

Os peregrinos que, a Meca
Acorriam, aos manguais
Tinham, no café, a moeda
Preferida, entre as demais
Para utilizar na troca
Por produtos orientais

Dos escravos sudaneses
O café era alimento
Comiam-no, ainda em casca
Para obterem sustento
A eles, deve o café
Também, seu enobrecimento

Nas mezinhas, Avicena
Nome cristão de Abu idn Sina
Nunca desprezava a planta
Que lhe dava a cafeína
Ele é o Príncipe dos Médicos
Orgulho da Medicina

Prosper Alpino contou
Da viagem ao Egipto
Que no Império Otomano
O café era feito um mito
A bebida mais bebida
Assim ele tem escrito

Baba Budam foi à Meca
Sete sementes guardou
Escondidas no amuleto
E, em Mysore, ele as plantou
O café, em Chikamalgur
Na Índia, frutificou

E a sementinha querida
Foi seguindo na sua senda
Deu uma volta inteira ao mundo
Num rastro de muita lenda
Quem quiser que conte outra
Que estude muito, que aprenda

Se quiser fazer amigos
Dê café como oferenda


quarta-feira, 23 de março de 2011

"Lagarta ou Borboleta"...?????

Arrumando as músicas hoje, com nomes padronizados e todas as tags de artista, nome da música e álbum certinhos, excluindo as de baixa qualidade... e me deparei com um samba-enredo que tive a honra decantar na Sapucaí...Me bateu um momento "saudosista"...




terça-feira, 22 de março de 2011

"Quizás, Quizás, Quizás"

"Siempre que te pregunto
Si alegum amor me escondes
Tú siempre me respondes
Quizás, Quizás,
Quizás.


Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, Quizás, Quizás.


Estás perdiendo el tiempo
Pensando, pensando,
Por lo que más tú quieras
¿Hasta cuándo? ¿Hasta cuándo

Y así pasan los días
Y yo, desesperando
Y tú, tú contestando
Quizás, Quizás, Quizás"

(Oswaldo Farrés, Cuba, 1947)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Hoje durmo incompleta... mas terrivelmente romântica...



...Somente um amor incompleto pode ser romântico...
(Em Vicky, Cristina Barcelona   por Woody Allen)

Publicado no blog psico.poético: "O tempo outra vez "

http://xandybritto.blogspot.com/

"Existem textos que a gente lê e ao ler os olhos vão enchendo de água, e eles vão falando da gente, e ao ler nos vemos a cada linha. A minha amiga Lu, escritora e atriz, escreveu esses versos. Espero que também façam bem a vocês."

Valeu, Lu!

Xandy Britto

O tempo outra vez

"A gente cresce e perde os ídolos
Os avós não tem tanta energia para caminhar
Os irmãos se casam
As irmãs menores te trocam por brinquedos e jogos de computador
Os amigos da infância ficam bêbados
Os amigos da rua se mudam
Os amigos da escola se matam ou passam a falar outra língua
Os amigos íntimos sofrem de depressão
As amigas íntimas pintam o cabelo e você não reconhece na rua
Você muda de cidade e as pessoas acham que você “ficou metido”
Você “fica metido” e as pessoas querem saber da sua vida mesmo assim
Você traz presentes que não entrega
Não leva presentes para ninguém e fica sem graça depois da visita
Deixa de ligar para algumas pessoas mas pensa nelas o tempo todo
Liga para algumas por obrigação
Você conversa com pessoas na rua e tem medo de criar vínculo, então evita sair na rua
Você sugere uma transformação a alguém e este alguém diz que não vai mudar nunca
Você acredita que o mundo está em movimento
Reencontra um amor antigo que depois de dez anos tem o rosto intocado pelo tempo
Começa a passar creme de vitamina E no rosto
Percebe que o cabelo vai ficando áspero
Você começa a ouvir os choros dos bêbes dos colegas vizinhos
Olha para uma criança tomando “mamá” e pensa que a vida era boa
Sente saudades da infância sempre
Sua casa fica pequena
Sua foto no quadro tem uma moldura brega
Seus presentes quase todos estão no lixo
Sua cama de solteiro não existe mais
Seu guarda-roupa guarda coisas que não são suas
Sua cadela não brinca tanto e tem os olhos meio cegos
Sua mãe também se casou
Você anda pela cidade e lembra dos namoros na calçada
Lembra que um dia não tinha mais nada além de uma tarde livre e uma noite tranqüila
Você volta pra casa e vê que nada mais será como antes
Embora as árvores estejam no mesmo lugar"

domingo, 20 de março de 2011

Fours Jacks...


OS VALETES DO BARALHO
Segundo o texto "Arquivo da categoria: Lendas & Curiosidades" de Leonardo Glass , os valetes representariam generais, amigos ou homens de confiança de grandes reis. Seriam eles:

Ogler (Ogier) – Valete de Copas
Ogier é um importante personagem  dos poemas épicos “chansons de geste“. Segundo esses poemas Ogier (que era dinamarquês de nascença) teria se aliado a Carlos Magno na luta contra os barões feudais.
Curião – Valete de Ouros
Nascido Caio Escribônio Curião, foi um orador e político romano. Amigo pessoal de  Júlio César, o qual num primeiro momento opôs-se, acabou morrendo em uma guerra civil.
Asael – Valete de Espadas
Asael foi um dos valentes de Davi, um grupo de seguidores que acompanharam o futuro rei, quando este fugiu para longe da loucura do então rei Saul.
Parmenão – Valete de Espadas
Parmenão foi um general de Alexandre, o Grande, designado para acertar a paz com Atenas em 346 A.C. 10 anos antes havia obtido uma gloriosa vitória sobre os Ilírios.

...
Mas...
Hoje...estou mais pra outro poema de autoria desconhecida:
"Fours Jacks...Oh...My Fours Jacks..."

E seus braços me trazem o outono...


"Quero apenas cinco coisas.
Primeiro é o amor sem fim ...
A segunda é ver o outono...
A terceira é o grave inverno ...
Em quarto lugar o verão ...
A quinta coisa são teus olhos!

Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando"

(Pablo Neruda)

Amantes da Lua...nos Embalos de um Sábado a Noite...


Fenômeno:  Super Lua 19 de Março 2011

É comum a Lua ter uma maior aproximação ou um maior afastamento da Terra. Isso ocorre porque a órbita da Lua é uma elipse e não um círculo. Para esses fenômenos de maior aproximação ou maior afastamento chamamos de perigeu e apogeu. O perigeu ocorre quando a Lua está mais próxima da Terra e o apogeu ocorre quando a Lua está mais afastada da Terra. A maior aproximação possível ocorre quando a Lua está a 355.147 km da Terra e o maior afastamento ocorre quando a Lua está a 406.720 km da Terra. Com essa diferença a Lua exibe uma aparência maior ou menor quando visível.

Neste sábado aconteceu o perigeu, fenômeno que se repete apenas a cada 18 anos, deixando nosso satélite natural 14% maior e 30% mais brilhante ao ser observada da Terra. O último perigeu havia sido em 1993. (Você se lembra o que estava fazendo????)

Foi um bom momento para os casais apaixonados, que puderam aproveitar o clima romântico propiciado por uma bela lua...mesmo com o céu parcialmente encoberto aqui em Campo Grande...

"Se por acaso morrer do coração,
é sinal que amei demais.
Mas enquanto estou viva,
cheia de graça,
talvez ainda faça
um monte de gente feliz. "

sábado, 19 de março de 2011

Chegou a hora de "desapegar" !!! Deixar o passado e seguir em frente SEM O "MEU CHAPÉU DE VELUDO VERDE"...

texto Liane Alves |




Olho com ternura para o meu chapéu de veludo verde. Ele já teve belas flores de camurça cor de ferrugem num dos lados das abas e, com certeza, dias de maior esplendor e glória quando o comprei numa sofisticada loja em Washington D.C. Naquele tempo eu tinha 22 anos e fazia minha primeira reportagem como enviada especial fora do Brasil. Foi quando o chapéu se converteu numa espécie de amuleto para mim. A primeira vez que o usei foi em Paris, e a estadia na capital francesa, onde fiz minha pós-graduação, se prolongou por mais dois anos. Depois, sempre com ele na mala, viajei para lugares tão exóticos quanto Hong Kong, sul da China, Indonésia ou o norte da Tailândia. Mais tarde, passei outra longa temporada em sua companhia aos pés dos Alpes italianos. O chapéu verde parecia atrair tantas viagens quanto o mel atrai abelhas. Se ele tivesse um passaporte, teria todas suas páginas carimbadinhas.

Por despertar tão boas memórias, nunca me permiti jogá-lo fora. Com isso, ele se transformou numa espécie de coisa imortal. Roto, meio deformado, e com várias passagens pela máquina de lavar, rodava pela casa como um bichinho de estimação. Já tinha servido como decoração no meu quarto, ou adereço nos teatrinhos encenados pelas minhas filhas. Foi emprestado algumas vezes, e chegou a viajar para a Alemanha em outra cabeça. Quando deixou de ser visível na casa, continuou sua vida de chapéu itinerante dentro dos armários. Sempre o encontrava em algum canto ou, então, abraçadinho a uma grinalda no alto de uma prateleira. Se fosse um habitante do planeta dos chapéus, hoje ele poderia ser considerado um nobre ancião.

Por isso, agora o seguro em minhas mãos com o mesmo fervor com que Hamlet agarrava o crânio de seu pai e lançava questões como “ser ou não ser”. Em vez disso, minha pergunta diante do meu chapéu de veludo verde é: jogo ou não jogo fora? Faria essa mesma pergunta diante de dezenas de outros objetos que pretendia me desfazer ao me mudar de casa. Essa tarefa insólita fazia parte da proposta da VIDA SIMPLES: seguir à risca o livro Jogue Fora 50 Coisas, da americana Gail Blanke, e treinar na prática o desapego.

“Nada mais fácil”, pensei. Faço isso em três horas, só de livros que não interessam mais devo ter mais de 50. Fiquei até com medo de não ter o que escrever. Afinal, com a simpatia que tenho pelo budismo, sabia que a vida é impermanente e que, por isso mesmo, não valia a pena se agarrar a objetos. Já tinha jogado milhares de coisas fora e acreditava que só o essencial tinha permanecido. Poucas coisas e boas era o meu lema. Quanto às questões internas, em relação a crenças e hábitos, pensava estar relativamente bem resolvida.

Você conhece a expressão “ledo engano”, não é? Pois esse foi o mais ledo de todos os enganos em que já caí na vida. Jogar objetos fora era apenas a ponta do iceberg. O que isso envolvia e mobilizava internamente é que era o grande problema. Para começar, a moça do livro, que não é nem boba, não facilitava a contagem dos itens que deviam ir embora. Para ela, por exemplo, dezenas de livros contam como uma única coisa. Batons velhos, corretivos nunca usados e rímeis duros também são computados numa única categoria: maquiagem. E assim por diante: vários CDs só valem um, talheres, um, pratos, um, assim como lençóis, vasos, almofadas e, principalmente, sapatos. Tudo um. Quando constatei o artifício maroto, comecei a suspeitar que essa história ia ser um pouquinho mais complicada do que eu pensava.


A linguagem das coisas

O que não tinha percebido ainda é que descartar parte de sua vida revela tantas coisas com relação a si mesmo quanto várias sessões de terapia. Aquilo que você guarda e o que joga fora, assim como o que compra ou deixa de comprar, é um espelho que refl ete fora o que você pensa e sente por dentro.

Deyan Sudjic, diretor do Museu de Design de Londres, teve esse mesmo insight ao escrever A Linguagem das Coisas, uma análise irônica sobre as verdadeiras razões pelas quais consumimos. Ele revela quais os impulsos inconscientes que determinam o ato de comprar e como a indústria nos captura por meio do design e da publicidade. Escreve: ”Entender como um laptop consegue que eu o deseje tanto a ponto de pagar para levá-lo para casa é também entender algo sobre mim mesmo”. A mesma conclusão vale para quem quer jogar algo fora: entender por que desejo manter uma coisa é também conhecer algo sobre mim de que talvez não estivesse consciente antes. É um exercício de autoconhecimento magnífico, que deveria ser praticado pelo menos a cada seis meses.

Nossos sinais

Sudjic diz que nunca tivemos tantas coisas dentro de casa como hoje. Embora os critérios de muitos de nós estejam cada vez mais orientados em direção a uma vida mais simples, ainda somos presas fáceis capturadas pelo consumo. E por que será que isso ainda acontece? “Os objetos são o que usamos para nos definir e para sinalizar aos outros quem somos”, afirma Sudjic com sua aguda percepção.

“Sapatos, roupas, automóveis ou a decoração da casa são elementos que empregamos para exteriorizar nossa personalidade, tanto quanto os usamos para ajudar a construíla. É uma via de duas mãos”, afirma a psicóloga Maria Cândida do Amaral. Os objetos são como uma espécie de linguagem que utilizamos para nos revelar e ao mesmo tempo para nos autodefinir.

Mais: pode-se dizer que uma das principais metas do design contemporâneo é nos auxiliar a contar essa história pessoal, quer para si mesmo, quer para os outros. Os designers se especializaram em contar nossas histórias particulares por meio de... coisas. Por exemplo: ter na cozinha um liquidificador que reproduz um antigo modelo da década de 50 pode sinalizar que gostamos da irreverência, que temos senso de humor ou uma queda por aquilo que é surpreendente. “Quando compramos esses objetos, nós os utilizamos como palavras dessa nova linguagem. É por meio dela que vamos expressar nossos valores e visão de mundo para os outros”, diz a psicóloga.

Sei. Será que é por isso que estou custando tanto a me desapegar da minha fruteira de cristal de Murano? Será que ela funcionaria como um anzol ligado à construção da minha identidade e ao carimbo cultura/ modernidade/sofisticação que apreciei tanto durante uma parte da minha existência? Um enigma. Apesar de minha vida ter mudado radicalmente de lá para cá, e de que hoje ela seja bem despojada e simples, minha fruteira de cristal vermelho continua me magnetizando como uma naja. Por que será que ela ainda me mobiliza tanto?


De frente para o inimigo

Estou no meio de três montanhas de objetos. Gail, que na foto da orelha do livro tem o blazer e o corte de cabelo da Hillary Clinton, me aconselha a manter três sacos pretos com as etiquetas: vender, guardar e doar. Como detesto colocar etiquetas em qualquer coisa, inclusive metaforicamente falando, prefiro ficar com as três pequenas montanhas, cujas bases insistem em se misturar de vez em quando.

Já separei alguns quadros para guardar, vender e doar. As pinturas em seda com os cumes nevados de Guanxi, na China, vão para um grande amigo, porque a palavra guanxi significa “relacionamento” e “confiança” em chinês, as bases de nossa amizade. Os gandarvas, seres celestiais da mitologia indiana, foram destinados a uma amiga que me deu a maior força e que foi um anjo como eles quando precisei. Assim, sem querer, vou construindo uma história emocional das pessoas queridas que passaram pela minha vida. É gostoso escolher presentes com sentido para quem se ama: é um lado positivo do descarte. Um a zero para ele.

Creio que agora consegui ajuntar forças para encarar de forma mais neutra os objetos de maior valor. E aí descubro por que tenho medo de vendê-los ou doá-los. Sabia que esse momento chegaria: Gail já tinha avisado que, ao jogar coisas fora, em algum momento entraríamos em contato com um inimigo oculto: nossas crenças.

E ali estava uma delas: não podia me desfazer objetos de valor porque jamais teria condições financeiras de comprá-los de novo. Precisaria viajar muito, e nem sei se haveria coisas semelhantes hoje nos lugares onde as comprei. Não estou nem questionando se essas coisas têm a ver com meu estilo de vida atual ou se continuo achando-as bonitas e por isso quero mantê-las.

O problema aqui é a crença subjacente a elas: não posso descartá-las porque nunca mais poderei comprar algo parecido. Uma crença que também pode segurar inúmeros outros objetos caros ou raros que não servem mais. O problema com as crenças é que elas se ancoram em meias verdades. Sim, eu realmente não poderia comprá-las de novo agora. Mas será que isso era definitivo? Será que se tivesse dinheiro em mãos compraria exatamente as mesmas coisas? É óbvio que não. Por que estaria então com tanto medo? Ainda posso ganhar um bom dinheirinho na vida, viajar por outros lugares com menos fome de consumo, e deles trazer outras lembranças que não as materiais. Também não preciso mais das coisas para construir minha identidade, o que talvez fosse verdade quando era mais jovem. Então posso perfeitamente abdicar delas.

Mesmo assim, ainda queria saber exatamente o que me prendia à minha emblemática fruteira. No fundo ainda não sabia. O que poderia ser?


Nosso homem neolítico

Como você já deve saber, existe um homem das cavernas dentro de nós. Se no Neolítico ele colecionava clavas, seu leque de opções hoje em dia se ampliou consideravelmente: é só a gente dar um pulo num shopping para se certificar disso. Mas segundo o inglês John Naish, autor de Chega de Desperdício!, nossos ancestrais tinham muitas mais clavas, flechas, facas ou enfeites do que necessitavam. Ficavam horas a esculpi-los, entalhá-los ou limálos, e os fabricavam com características diferentes. E por quê? Ora, pelas mesmas razões de hoje: por prazer. E também para impressionar os outros e ganhar prestígio social dentro da tribo.

No Neolítico, ser rejeitado pelo grupo significava morrer. A rejeição se traduzia em exclusão e naquele tempo uma pessoa não tinha muitas chances de sobreviver se fosse deixada sozinha numa floresta onde circulavam tigres-dentes-de-sabre. Por isso, haja clavas, flechas e tacapes, que evoluíram para jipões, roupas, casas decoradas, piscinas ou qualquer outra coisa com a qual podemos nos pavonear. E não pense que você está imune a isso. Mesmo para aqueles que optaram por uma vida mais simples, o desejo de impressionar pode continuar latente por debaixo do pano. Será mesmo que era o medo da rejeição social que andava me segurando?

Laços de energia

Enquanto avalio roupas de cama e mesa, lembro os ensinamentos de Carlos Castañeda, um antropólogo que viveu com um feiticeiro mexicano, dom Juan Mattos, e que baseou sua tese de doutorado no intenso aprendizado que teve com ele. Segundo dom Juan, somos rodeados por um corpo oval de energia luminosa, invisível ao olhar ordinário. Durante nossa vida, essa energia pode formar filamentos que se prendem a objetos, situações e pessoas a que nos sentimos muito apegados. De acordo com o líder indígena, eles nos aprisionam ao passado, impedem nossa liberdade e enfraquecem nossa energia vital. “Para recolher esses filamentos, um aprendiz devia se retirar do mundo por alguns meses e procurar reviver detalhadamente todas as situações passadas a que estava apegado. Hoje a recapitulação, como é chamado esse processo, é feita em menos tempo, mas é igualmente eficaz”, diz a psicóloga Patrícia Aguirre, discípula brasileira de Castañeda. “Esse processo é feito com auxílio de uma respiração determinada. Visualizamos a situação e nos desligamos dela”, afirma.

Olho de novo para os lençóis que usava com meu último namorado. Eram lindos, macios, e ainda estavam por ali disponíveis. Tento imaginar a enorme quantidade de filamentos que me ligavam a eles, se essa história de grudes luminosos for realmente verdade. E resolvo mais tarde fazer um exercício à dom Juan: em meditação e de olhos fechados, me imagino retirando os fios luminosos que me prendem aos lençóis. Inspiro e retiro os fios, expiro e encho meu brilhante ovo luminoso de mais luz. Quando doá-los, presumo que eles não tenham mais minha energia. Talvez fosse melhor fazer a respiração que é ensinada com detalhes nos grupos de Castañeda, mas acredito que mesmo assim deu certo.


Outro mestre me vem à cabeça: Gurdjieff. Ele fala que somos movidos pelas associações que damos às pessoas, situações e coisas. Colocamos etiquetas emocionais nelas e na verdade é a elas que somos ligados. Isto é, uma xícara não é só uma xícara, mas uma herança da tia Elza. Quanto mais identificação com essas associações, pior é. Segundo Gurdjieff, elas nos impedem de ver a realidade como ela é, onde as coisas são apenas coisas, sem valor intrínseco.

Achei! Finalmente descobri por que fiquei enganchada na fruteira. Não queria jogá-la fora por causa de uma associação. Sua forma triangular me fazia lembrar (por favor, não ria) da Santíssima Trindade. Achava muito forte ter esse símbolo sagrado presente em casa e de uma forma tão bonita.

De acordo com Gurdjieff, desde que vista conscientemente, a associação não atrapalha mais. Quanto mais conseguirmos enxergar nossos condicionamentos e o nosso limitado modo de pensar e ver o mundo, mais essa visão mostra nossa dolorosa situação de inconsciência de nós mesmos ou, como ele dizia, o horror da situação. E, para ele, a auto- observação é o que vale, pois ela é o ponto de partida da busca pela consciência. Não é preciso necessariamente mudar alguma coisa, só ver nossas limitações.

Então a fruteira fica.

Fim da experiência

Bom, cheguei ao número 49 agora de manhã, depois de duas batalhadas semanas jogando coisas fora. Gail garante que o número 50 é uma espécie de centésimo macaco: depois de o ter atingido, tudo pode mudar definitivamente em nossas vidas. É verdade. Pelo menos ficamos livres de um enorme peso que atravancava o caminho.

É óbvio que deixei o meu querido chapéu verde por último. Agora posso jogá-lo fora. Não me sinto mais atrelada a ele ou à crença de que só ele pode me trazer novas viagens. Estou prontinha. O problema é que não consigo mais encontrá-lo no meio da bagunça de caixas, sacos para doação e lotes de venda. Talvez ele tenha se escondido num cantinho, como segreda minha parcela de pensamento mágico. Ou até, no meio da confusão, já o tenha descartado e nem me lembre mais disso. Portanto, ficamos assim: se encontrá-lo, jogo fora. Ou dou de presente, embora depois de tantas lavagens ele caiba apenas na cabeça de uma criancinha. Mas uma coisa é certa: depois de todo esse processo de libertação e descarte, está claro para mim que ele não tem mais serventia.

LIVROS
Jogue Fora 50 Coisas
, Gail Blanke, Ediouro
Chega de Desperdício!, John Naish, Best Seller

DESAPEGO NA RAÇA

Você acha que descartar objetos, situações e hábitos é fácil? Veja o que acontece com quem decide jogar 50 coisas fora em duas semanas